domingo, 20 de outubro de 2013

Resenha: Delirium #1 - Delírio

de Lauren Oliver

É bem irritante quando as séries tem o mesmo nome do primeiro livro. Só um comentário breve.

Delírio se passa em uma sociedade distópica onde o amor é considerado uma doença. Garotos e garotas são separados a vida inteira, e perto dos 18 anos eles recebem a "cura" do amor, para então serem pareados com a pessoa com a qual irão viver e ter filhos.
Essa sociedade é cercada de muros e arames, para manter os "Inválidos" (as pessoas que moram fora e que não foram curadas do amor) do lado de fora, e  impedi-los de trazer a sua doença para dentro.
A vida continua mais ou menos a mesma, exceto pela falta de amor. E não é só falta de amor, é falta de qualquer sentimento forte que se pode ter por qualquer coisa. Falta até mesmo de compaixão. As pessoas tem animais de estimação, mas elas não os amam. Elas tem filhos, e elas não os amam.
Nossa personagem principal é Lena. Ela está perto de fazer o seu teste para ver com quem ela será pareada, já que está quase com 18 anos.
E então, é claro, ela vai de aceitação à descrença. E é essa a estória do primeiro livro: sua jornada do momento em que ela ainda é submissa à sociedade e aos seus valores, até o momento em que ela percebe tudo que há de errado ali e resolve fazer alguma coisa sobre isso.
Sobre o romance no livro... Eu provavelmente tenho algum problema com romances, porque nenhum desses casais de YA parece me tocar. Eu gostei de Alex como um personagem, mas a relação deles me pareceu forçada. Eu entendo que Lena nunca falou com meninos na sua vida, e que era mesmo provável que ela se apaixonasse pelo primeiro que a desse bola, mas mesmo assim. Forçado. O único momento em que senti qualquer coisa sobre o amor deles foi em uma cena que eles tiveram em um trailer, mas sem spoilers.
Lena é a sua típica personagem principal de YA. Ela é insegura, se perguntando diversas vezes durante o livro como alguém poderia gostar dela, e quando ela nos diz suas características físicas suas palavras são sempre "Nem alta, nem baixa, nem gorda, nem magra, nem bonita, nem feia. Apenas comum.". Ela deixa claro que não vê nada de mais em si mesma, e eu estou deixando claro agora que isso me irrita profundamente nesses livros. Que tal uma personagem principal que se ache bonita? Que tenha outros problemas consigo mesma que não sejam relativos à sua aparência?
Ou seja, não gostei de Lena. Parece que ela vai melhorar drasticamente nos outros livros, pelo que ouvi, mas essa é a minha opinião agora.
Passando para a escrita, eu tenho que dizer que esperei mais. Não é ruim, não exatamente. É que com todos me dizendo que a escrita era muito poética e bonita, eu esperava algo... Bom, poético e bonito. Mas o que consegui foi uma escrita um pouquinho diferente do "normal", que se me provocou qualquer reação foi a de cansaço mental. Não porque seja difícil de ler, mas por ter tanta informação desnecessária. A autora faz comparações demais. Em todo o parágrafo que a narradora descrevia uma sensação, ela a comparava com alguma coisa. O gosto de alguma comida nunca era o gosto daquela comida apenas, mas de várias outras misturadas. A sensação de nadar não era apenas como nadar, mas como flutuar no espaço em meio às estrelas que vagarosamente explodiam enquanto um navio pirata espacial a seguia pelos confins da Via Láctea, ou algo assim. E ei, eu gosto de comparações, quando elas fazem sentido e são preciosas, mas Lauren Oliver as coloca em todos. os. parágrafos. E eu até entendo como isso pode ter maravilhado algumas pessoas que leram o livro e me disseram que a escrita é ótima, mas eu não consegui ver nada demais.
Um outro ponto negativo da escrita foi a mudança repentina de Lena. Eu gosto quando meus personagens se desenvolvem de forma plausível, e é muito irritante quando não há desenvolvimento nenhum, mas ainda mais irritante é quando esse desenvolvimento é simplesmente inacreditável, súbito.
Lena vai de completamente devota e submissa à sociedade à completamente apaixonada e disposta a lutar contra todos que a queiram parar em pouquíssimo tempo. De repente, ela enxerga tudo como é. Não acreditei nesse desenvolvimento, ele não me pareceu natural de forma alguma.
Uma das coisas que me tocou e perturbou nesse livro foram as relações entre pais e filhos. Os pais não demonstram afeto por seus filhos, então quando eles se machucam na rua e choram, ninguém se importa. Algumas mães mataram seus filhos por eles serem irritantes e não pararem de chorar. É horrível, e eu não sei como como as pessoas dessa sociedade podem achar que isso esteja dando certo, e por tanto tempo. O amor é uma parte muito grande de nossas vidas, e mesmo quando não temos nada, ainda o temos. Se você o tira de nós, o que nós nos tornamos? Máquinas? Zumbis?
Um ponto positivo do livro foram os pequenos trechos no início de cada capítulo, alguns com cantigas, outros com pedaços do Shhh (Suma de hábitos, higiene e harmonia, o livro que eles seguem como sua Bíblia), outros com reportagens sobre o momento em que a sociedade mata os inválidos e cria suas fronteiras... Isso foi bem pensado, uma forma ótima de dar informações ao leitor sem criar um capítulo inteiro só para isso. Um toque bem interessante à estória.
Eu vou continuar lendo a série, é claro. Tenho esperanças de que Lena melhore, e realmente quero saber o que vai ser desta sociedade sem amor. Além disso, não gosto de desistir.

Beijos, etc.

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