terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Resenha: Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe

de Benjamin Alire Sáenz

Eu comecei a ler esse livro sem saber quase nada sobre ele. Tudo que eu sabia era que ele não era realmente sobre Aristóteles, ou Dante (até porque isso seria meio difícil), mas sim sobre dois garotos com o nome deles. Eu sabia que o livro era sobre a amizade deles e também que um dos personagens, o que narrava a estória, vivia deprimido e tentando descobrir quem ele era. Fora isso, nada. Mas eu ouvi por aí que ele era muito bom, e ele tinha vários adesivos de prêmio na capa, então pensei: por quê não? Ele tem poucas páginas. Eu definitivamente consigo ler isso em um dia.
E foi o que fiz.
No início, eu estranhei um pouco. O personagem principal começa sua narrativa reclamando da música que está tocando no rádio, reclamando do homem que escolhe as músicas, reclamando de várias coisas. Eu pensei, por que não desliga o rádio, então? Mas é claro que não é tão simples, e acho que entendo. É melhor sentir raiva da música do que morrer de tédio sem escutar nada.
Descobri que o livro se passa nos anos 80 (mas não acho que a época tenha tido muita diferença nos eventos do livro), e que nosso personagem principal, Aristotle, narrava. Os primeiros 5 ou 6 capítulos são bem apressados, indo logo pra parte em que ele e o Dante se conhecem, mas a escrita entra em um ritmo logo e se torna maravilhosa antes que você perceba o que aconteceu. O autor conseguiu colocar muito sentimento e muito significado na narrativa, sem perder a noção de que quem estava narrando era um menino de 15 anos. Você não duvida dos pensamentos filosóficos de Aristotle, porque ele os coloca de uma forma tão adolescente (no linguajar usado, na construção das frases...), mas ainda assim tão sábia, que em momento nenhum você pensa "ei, pessoas de 15 anos não falam assim!", como acontece em certos livros.
Aristotle, ou Ari, como prefere ser chamado, está extremamente deprimido, e ele não sabe muito bem o porquê. Ele tem ideias, claro, mas ele não tem certeza. Ele nunca teve um bom amigo, ou um melhor amigo. Seu pai está atormentado pelos fantasmas da guerra. Seu irmão mais velho, que ele nem conheceu direito, está na prisão e seus pais se recusam a falar sobre ele... E Ari não sabe direito como lidar com tudo isso. Ele não é muito de falar, de demonstrar seus sentimentos, e as vezes ele pode até ser bem rude com as pessoas, mas ele quer melhorar. Ele quer descobrir porquê, ele quer descobrir os mistérios de sua própria vida.
Uma das coisas que amei nesse livro foi a relação dos personagens com seus pais. Não faz nem uma semana que postei uma outra resenha dizendo que eu queria um livro em que os personagens adolescentes tivessem relações decentes com seus parentes, e esse livro foi isso. O Ari, apesar de as vezes falar sem pensar, ou pensar muito e acabar não falando nada, é um ótimo filho. Assim como Dante. E eles tem ótimos pais.Tanto os pais de Ari quanto os pais de Dante são maravilhosos, apesar de cometerem erros. Cada um tem a sua personalidade própria, cada um tem o seu próprio desenvolvimento ao longo da narrativa.
De fato, nenhum dos personagens me pareceu ter uma personalidade fraca (no sentido de ser tão usada que já estamos cansados dela), ou estereotipada. Todos eles tinham suas próprias características, e todos eles crescem nessa estória, ainda que em diferentes escalas. Mesmo Gina e Susie foram bem pensadas, e eu me via torcendo para que a amizade delas com Ari desse certo.
Esse livro é sobre mudanças, sobre transições, sobre descobrir quem você é. Ele se passa em pouco mais de um ano, e nesse ano Ari e Dante mudam muito, experienciam muito. Se machucam, ficam bem, ficam doentes, voltam a ficar melhores, brigam, fazem as pazes... E chegam mais perto de descobrir quem são. De descobrir todos os segredos do universo. Não sozinhos, mas com a ajuda um do outro, e dos membros de suas famílias. E foi tudo tão bem executado, que é quase como se tivesse sido por baixo dos panos. Pelo menos para mim. Quando percebi, Ari e Dante eram pessoas completamente diferentes.
O Aristotle tem uma tristeza dentro dele que é quase parte de sua personalidade. Em certo ponto, ele pensa que ele realmente odeia todo mundo, que ele não sabe o que é amor, mas ele não percebe que ele tem amor em volta dele, e dentro dele. Ele só não sabe se comportar, como amar, como se importar.
Eu admiro muito o Dante por sua personalidade quase totalmente oposta à de Ari. Ele ama animais, fica triste quando eles morrem, tenta ajudá-los, e procura dizer sempre o que ele está sentindo, principalmente se for uma coisa boa. Sua amizade com Ari é linda, e mesmo quando Ari é rude com ele, ele entende que essa é a personalidade dele, que ele nem sempre quer dizer o que ele fala - e ele fica com Ari e o ajuda. Eles ajudam um ao outro.
De um jeito, eu me identifico com os dois (tenho certeza de que não sou a única). Essa depressão quase inerente à personalidade de Ari (que ele engole, que ele não compartilha, que ele esconde) é tão dele quanto minha. Todos nós temos um pouco de tristeza. Mas todos nós temos um pouco de alegria também. Querer expressar nossos sentimentos (mesmo sem conseguir sempre), querer ajudar àqueles com quem nos importamos, mesmo que sejam animais... Isso é mais Dante do que Ari. Eu sinto que sou uma mistura dos dois. E mesmo eles tem um pouco do outro.
E aí entra um dos motivos de eu ter gostado tanto desse livro. Enquanto eu estava lendo, um pensamento me ocorreu de que esse livro se parecia muito com uma fanfic. Eu não conseguia saber o que era, o que ele tinha de tão parecido, mas achei que fosse o estilo da escrita ou os acontecimentos rápidos (já que o livro é razoavelmente curto) que se dão no livro. Mas aí eu percebi o porquê. Eu já li muitas fanfics lindas que me emocionaram muito e 70% da razão de isso poder acontecer era porquê, por as fanfics serem baseadas em outro universo já existente, você já conhece os personagens, e por isso o autor pode usar sua estória para enredos sem muita ação, que não precisem manter sua atenção o tempo todo, ou mais desenvolvimento de personagens, do que passar metade do tempo nos apresentando as pessoas sobre quem o livro é.
Em Aristotle and Dante Discover the Secrets of the Universe, eu me senti, desde o início, como se já conhecesse os personagens. Eles já me eram familiares, o autor não precisava descrevê-los para mim. Com isso, o autor teve liberdade para criar uma estória mais intensa.
O livro também me deixou nostálgica, pensando em uma época que perdi, que passou. A época em que eu brincada de pique-esconde, e corria com meus amigos. Ari e Dante passam por esse momento de nostalgia. Eles crescem, e de repente as brincadeiras que faziam na rua, tão divertidas em outra época, podem apenas ser reproduzidas na memória. Eles estão velhos demais para isso agora.
Eu tenho tanta coisa pra dizer sobre esse livro, mas eu sinto que já disse demais.
Ari e Dante queriam descobrir os segredos do universo - o que eles conseguem, de certa forma. Os bons e os ruins. E eles vão continuar descobrindo, sem nunca saber tudo. Nem sobre o universo, e nem sobre si mesmos.

Beijos, etc.

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